Por Valmir Santos
Desde o primeiro segundo a cena solo se organiza cirurgicamente na conjugação do ator com texto, espaço, luz e música. A concomitância de elementos são o sal e a limpeza formal de As Tramoias de José na Cidade Labiríntica. Eduardo Giacomini, também o cenógrafo, faz de uma plataforma de cerca de um metro quadrado o território bambo das memórias que projeta. O texto deambula por reminiscências, como a formação da pólis grega e o pós-guerra; guia-se pelos olhos de Santa Luzia; e por aí vai.
A escrita da diretora Olga Nenevê firma uma tensão dramática existencial ao mesmo tempo em que a retalha entre lacunas reiteradas pelo sujeito, um espécie de Funes borgiano (des)memorioso divagando em torno dos grandes temas da humanidade e daqueles que circunscreveram a sua essência. A desordem e o fracasso pisam as calçadas e o asfalto das cidades urbanas flanando por solidões e medos universais segundo as lentes do narrador assombrado com os descaminhos traçados até ali.
A cena do núcleo Obragem de Teatro e Companhia amealha sínteses em seu acabamento visual que não encontram eco na enunciação de Giacomini. A voz ainda não emana o mesmo tônus corporal por meio do qual não sucumbe ao desequilíbrio de base. Timbres em rouquidão e rugido, quem sabe. Em tudo mais, a sublimação esteta guarda potencial artaudiano, equalizando ambientação sonora com um desespero coronário para flechar o outro a quem dirige seus pensamentos bilíngües assimilados por bons entendedores de meias palavras assim disponíveis, aqui e alhures.
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