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Mostrando postagens de 2009

Finalizando a 5a Mostra Cena Breve

Queridos colegas, Finalizando a 5a Mostra Cena Breve comemoramos com imensa alegria tudo o que ela suscitou, aproximou, revelou e possibilitou em 2009. Comemoramos juntos! Neste ano a atmosfera de compartilhamento permeou todos os momentos, criou vínculos e estabeleceu diálogos, principalmente pela disponibilidade dos grupos à construção do convívio. Foram dias intensos desde a oficina, passando pelos encontros diários, os ensaios, a correria da equipe técnica, o convívio com os convidados, os colegas de outras cidades, o encontro com o público, sem contar as festas e em particular as inesquecíveis apresentações em Araucária. Nesta edição o blog da Mostra se mostrou um importante instrumento de expressão. Ë fato mais que conhecido que a “crítica”, seja em que dimensão humana ela atue , provoca reações passionais. Aqui não foi diferente. Lamentamos que manifestações agressivas, com caráter eminentemente pessoal, pouco contribuíram para o embate de idéias, ao contrário, desviaram qual

Prêtà-porquê – Cia portátil

A cena da Cia Portátil, assim como a cena que se apresentou logo antes, da Cia 5 cabeças, também atingiu um ponto de relação com o espectador que abre possibilidades para a Mostra agregar um público espontâneo, que não está comprometido com o teatro ou com os integrantes dos grupos que estão se apresentando no evento. O que me parece mais pungente na cena é a presença dos contrastes internos. O humor é simples, declarado, imediato. No entanto, o que chega para o espectador não é só o divertimento, mas um divertimento entrecortado de diversas outras sensações. Um dos contrastes mais visíveis da cena parece ser a instituição da espetacularidade mesmo sem a presença de números propriamente espetaculares. Os signos usados na encenação inscrevem a cena dentro de um contexto que não prevê uma atitude crítica, mas uma exibição de habilidades. O que a cena traz é exatamente o oposto, o deboche do virtuosismo. Assim, a comicidade vem à tona, mas recheada de comentários e de perguntas. A cena ta

5 cabeças à espera de um trem – Cia 5 cabeças

A cena “5 cabeças à espera de um trem”, da Cia 5 cabeças, é uma cena fechada, bem acabada, que se propõe a ser uma obra em 15 minutos, não uma cena de uma peça ou uma amostragem de um processo. Nesse sentido, a Mostra é aberta para todas as possibilidades de cena e, dentro do conjunto de trabalhos apresentados, pode-se perceber que a escolha dos grupos é bem variada. Isso torna a Mostra muito interessante do ponto de vista da experimentação e do intercâmbio de linguagens. Para o público interno da Mostra, essa é uma característica bastante positiva. Mas, para o público externo, talvez nem tanto. A cena da Cia 5 cabeças traz essa questão para a Mostra, mesmo que isso não esteja previsto pelo grupo ou pela cena. O trabalho desse grupo poderia interessar a qualquer espectador, até o menos comprometido com o teatro. Ao longo da Mostra, foram vistas cenas em processo a que se tentou dar um tratamento de finalização e cenas autônomas que tinham aspectos pouco resolvidos. A partir desse ponto

Looners – Elenco de ouro

“Looners”, a cena do Elenco de ouro, parece ter abandonado um pouco, de um modo geral, o ponto de partida apontado no título, mas a referência aparece na cenografia: à frente de um fundo branco, um grande arco de balões vermelhos e brancos; em cena, uma gueixa. Assim, a cena associa a imagem do balão com uma imagem de fetiche. Mas os “looners” (pessoas que se excitam com balões de látex) ficam um pouco de lado. Na cena, a gueixa faz uma coreografia enquanto uma voz masculina fala em off. O humor obscuro da cena como um todo é prejudicado pelo tom desta voz em off, que mostra que o autor do discurso carrega os seus questionamentos mais como um fardo, do que como uma bagagem. A voz do ventríloquo, aquela voz que fala através de uma imagem muda, é interessante quando ela se entorta nesse trânsito entre imagem e fala. Na cena em questão, há uma separação entre imagem e fala, elas não se contaminam. Um outro ponto que pode ser apontado é o teor do texto gravado. A lida com conceitos e refer

Suba na vida - Casa de passagem

A cena “Suba na vida” do grupo Casa de Passagem foi realizada na calçada em frente ao Teatro da Caixa. Parece que a cena, originalmente, não foi concebida para ser encenada num espaço externo, o que trouxe alguns problemas para quem estava assistindo. As três atrizes fizeram a cena como se só houvesse público à sua frente, quando havia gente assistindo de todos os lados, além das pessoas que transitavam pela rua naquele momento. Assim, a rua, um elemento que parecia ser relevante na cena, não foi incorporado. Não houve um enfrentamento com a espacialidade, embora a rua imprimisse na cena a sua própria dinâmica, além, é claro, da sua visualidade. Em determinado momento, parecia que todos os problemas que a rua trazia eram enfrentados na extroversão e no grito. Um aspecto do grupo que pode ser apontado a partir dessa relação que se deu ali com uma rua que não estava prevista é o tipo de energia de que as atrizes lançam mão para dar conta do que precisam apresentar. Talvez seja um pouco c

Meu sonho é participar de um filme de Pedro Almodóvar - Pé no palco

A cena apresentada pelo círculo de encenação e pesquisa Pé no palco, “Meu sonho é participar de um filme de Pedro Almodóvar”, pode levantar algumas questões interessantes sobre a tentativa de trazer para o teatro uma referência de cinema. A questão é pensar qual recorte, qual ponto de vista do cinema de Almodóvar foi escolhido pelo grupo e o que esse recorte sugere para a construção de uma cena. Acredito que o grupo tenha preferido fazer um recorte temático e visual, aspectos que vêm à tona mais imediatamente num contato inicial com a filmografia do diretor. Deste modo, as cenas tomaram um caminho mais ilustrativo, trazendo para o palco algumas cenas parecidas com as de alguns filmes, mas sem a preocupação com a forma de fazer as cenas, com o modo de dar a ver aquelas histórias, uma característica forte dos filmes de Almodóvar. É como se o grupo quisesse dar uma amostra das cores do Almodóvar, mas sem se preocupar com as suas linhas. Acredito que para fazer uma transposição de uma ling

Pecinhas para uma tecnologia do afeto – o teste – Teatro de ruído

O grupo Teatro de Ruído apresentou sete pequenas cenas espalhadas pelo espaço do Teatro da Caixa, todas em fase de experimentação – e por isso o subtítulo “em teste”. O espectador fica livre para escolher se assiste a uma cena ou se tenta transitar pelo espaço, para assistir pequenos trechos de duas ou mais cenas. Quem não conhece o grupo fica sem ter nenhum critério pra fazer uma escolha, sem nenhum norte que dê uma sugestão de por onde começar. Muitas pessoas, como eu, acabaram não vendo praticamente nada. Outras, que acompanharam alguma cena do início até o fim, ficaram sem perceber o que as cenas poderiam ter de comum, salvo pelos rastros dos dispositivos cênicos espalhados pelo espaço. Mesmo assim, foi possível perceber uma preocupação do grupo com a visualidade das cenas como partes de um todo, o que se expressava por um tratamento comum nos figurinos: os mesmos materiais, cores e texturas. Por outro lado, não havia uma preocupação com a visibilidade das cenas. É como se o públic

Altos e baixos - Cia de Palhaços

Para analisar uma cena de palhaços, a minha condição de estrangeira fica ainda mais acentuada: não sei nada sobre palhaços, suas técnicas, suas poéticas e tradições. O que posso pensar e dizer é como espectadora especialmente interessada. Assim, faço algumas perguntas ingênuas. O que faz o palhaço fora do universo infantil? Quem se desloca? O espectador, que é infantilizado? Ou o palhaço, cujas premissas são problematizadas pelo deslocamento? Se o palhaço pode simplesmente ser um animador de festas, o que muda quando ele passa para o universo de criação artística? Especulando sobre essas questões, acho que é possível pensar que quem faz o deslocamento maior é o próprio palhaço, embora a presença do palhaço naturalmente problematize a condição do espectador e provoque o seu deslocamento. O palhaço, fora do universo infantil, se transforma. Ele tem a possibilidade de subverter o contexto, não apenas quando distorce as coisas, mas, penso que principalmente quando ele consegue fazer um cor

Coração acéfalo/Boca desgarrada - Companhia Subjétil

A cena da Companhia Subjétil apresenta uma característica interessante dentro do contexto da Mostra: a construção da dramaturgia para os sugeridos 15 minutos de apresentação em uma dinâmica coerente com a utilização do tempo. Na maior parte das outras cenas assistidas até agora, mesmo nas que foram pensadas especificamente para a Mostra, a duração ficou um pouco marcada como uma premissa externa – seja por insuficiência de tempo para que o espectador encontre um fio condutor para si, seja por uma tentativa de preencher os quinze minutos com o maior número possível de signos. “Coração acéfalo/Boca desgarrada” tem uma cadência própria. Em outras apresentações, os 15 minutos foram divididos em mais de uma cena, às vezes cada uma com uma tônica diferente. Isso não é necessariamente um problema, afinal a Mostra abre possibilidades para uma variedade de propostas, mas dentro de um horizonte de convivência, me pareceu que essa particularidade da cena da Companhia Subjétil fez uma diferença pa

Desejos - Cia Extravaganza

A Cia Extravanganza apresenta dois trechos de um espetáculo realizado pelo grupo alguns anos atrás, a montagem do texto “Teus desejos em fragmentos” do dramaturgo chileno Ramón Griffero. O que acontece em um caso como este é que a discussão sobre a obra como um todo precisa vir à tona para que a cena faça sentido. Por mais que a peça seja em fragmentos, os fragmentos escolhidos, isolados, não parecem autônomos. Isso coloca uma dificuldade para o espectador. Procuramos então observar o que aparece na cena e o que se pode pensar a partir do que se dá a ver: a relação dos atores com a palavra no teatro. Essa relação apresenta uma série de possibilidades de experimentação. A que vemos na cena “Desejos” é o trabalho com a imagem, talvez mais especificamente com o caráter instável da imagem quando parte de uma voz que não é a de um personagem nitidamente delineado. A condição da fala do ator é problematizada quando esta fala parece, a princípio, não significar uma ação ou uma relação imediat

Burlescas Boogie-Woogie - Companhia Silenciosa

O que a Companhia Silenciosa traz para a Mostra Cena Breve é um recorte de 15 minutos de um espetáculo pronto, que acontece num espaço que não é de teatro, mas um lugar de festa, ao longo de 6 horas. A princípio, não se trata exatamente de um espetáculo teatral, mas, pelo que foi possível perceber, de uma série de números não necessariamente interligados. No entanto, a transposição do trabalho para o contexto da Mostra altera o estatuto do trabalho quase automaticamente. Isso não parece ter sido levado em consideração pelo grupo, de modo que a cena apresentada se aproxima mais de uma encenação de números de música e dança, uma espécie de representação mimética do que seria um show. A ideia apresentada ao espectador na sinopse de "Burlescas Boogie-Woogie" aponta para a problematização e a relativização de alguns tópicos, mas o que se pode ver em cena é um bloco único, uma amostragem da noite clubber ou de uma estética do travestimento. Os atores parecem muito colados, muito ad

Coração de congelador - Súbita Companhia de Teatro

A Súbita Companhia de Teatro apresenta, com “Coração de congelador”, uma cena criada especialmente para a Mostra. Com isso, aparece naturalmente uma noção de dramaturgia diferente do que nas cenas em processo ou nas cenas que foram recortadas de espetáculos prontos. Para falar sobre a interseção entre a dor e o amor, o grupo apresenta uma espécie de prólogo, duas cenas de dois casais com dinâmicas de relação equivalentes e uma cena com os quatro atores que oferece um movimento crescente até a finalização. O prólogo é bastante rígido e revela, como na cena da Cia de Alguém, o gosto pelos procedimentos internos do trabalho do ator. O esgarçamento de uma ou duas frases e a fragmentação desse pequeno texto em quatro vozes parece autorreferente a ponto de não convidar o espectador a entrar no jogo. As cenas seguintes são mais sedutoras, têm traços ora comoventes ora cômicos, embora ingênuas na sua forma. Acredito que isso se deva também ao fato de que entra em cena o tema do amor. Mas a rel

E ela abriu os olhos debaixo d'água - Cia de Alguém

A cena da Cia de Alguém, intitulada “E ela abriu os olhos debaixo d’água”, é parte do processo de uma peça em fase de construção. No entanto, a cena apresentada revela alguns traços de acabamento. Algumas soluções foram aplicadas à massa de experimentação. Por um lado, isso revela um cuidado, uma preocupação com o espectador – ou uma pressa de significar alguma coisa logo. Por outro lado, esse acabamento acaba por maquiar, de certa forma, o processo em si, dando contorno a um desenho que ainda seria, naturalmente, disforme. Isso pode despertar uma reflexão a respeito do que é prioridade no processo de criação e de como um ponto de partida para uma obra de arte (um tema, uma dinâmica de relação, um conceito) se desenvolve e ganha forma. Quanto à primeira questão (o que é prioridade no processo de criação) é possível perceber que a cena aponta para duas perspectivas do grupo: a importância dos próprios procedimentos de treinamento e uma ansiedade de materialização das ideias que estão em

Pra começar

Antes de dar início aos trabalhos nesta V Mostra Cena Breve Curitiba, talvez seja importante traçar alguns aspectos dos pontos de vista a partir dos quais as cenas podem ser abordadas neste blog. Digo “pontos de vista” – no plural – porque são múltiplas as possibilidades de reflexão sobre as cenas, são diversos os lugares (do pensamento, da percepção) despertados por cada cena. No entanto, um lugar é condição necessária: o de estrangeira. É como estrangeira que chego a Curitiba, a convite da Cia Senhas, e presencio trabalhos de grupos cuja trajetória não tive oportunidade de acompanhar e cujo contexto de criação e produção não conheço. Tudo o que posso saber de cada cena e de cada grupo está ali: em cena. Partindo dessa premissa, abre-se o leque. Cada cena puxa uma carta. Além disso, cada grupo de cenas (dividas em três a cada noite) estabelece um horizonte comum, o que acontece quase forçosamente pela convivência no espaço e no tempo de cada apresentação. Sem contar com o fato de que