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Mostrando postagens de novembro, 2008

Da longa jornada

fotos: Elenize Dezgeniski No alto, os artistas da CiaSenhas, idealizadora da Mostra; acima, uma das rodas de debate que refletiram sobre as cenas apresentadas na noite anterior Foram seis noites de convivência, da mesa-redonda de abertura, ao lado de Francisco Medeiros e Claudia Schapira, às quatro noites com três cenas cada uma, 12 trabalhos de variados estilos, estéticas, temperamentos, éticas, atitudes, poéticas, desejos etc., somando-se a noite derradeira, com uma cena convidada de Belo Horizonte seguida da conversa com Chico Pelúcio, o pacote completo da IV Mostra Cena Breve Curitiba – A Linguagem dos Grupos de Teatro permitiu-me um primeiro contato efetivo com a ferramenta do blog. Deu para notar certa "lentidão" nos posts, a falta de timming. Permitiu-me ainda a proximidade com o universo das chamadas cenas curtas, dos 15 minutos de teto a que muitas produções simplesmente ignoraram. Aliás, o Leonardo Lessa, do Galpão Cine Horto e do grupo Teatro Invertido, contou que,

os reclames

foto: Elenize Desgeniski Os estudantes de artes cênicas Larissa Lima e Fernando Perri (Ringo) varreram o silêncio e o vazio pós-cenas A dupla Larissa Lima e Fernando Perri, leia-se Ringo, comandou os entreatos nas cinco noites de apresentações dentro da IV Mostra Cena Breve Curitiba - A Linguagem dos Grupos de Teatro. O intervalo, ou o "reclame", como se dizia antigamente, numa referência televisiva ou radiofônica, duraram em média dez minutos. Esse recurso de "entreter" soa contraditório à proposta do encontro, seu pendor para a reflexão. Mal terminava uma cena, e lá vinha o "bingo", a "corrida", a "disputa", uma dispersão automática que emperrava a fruição daquilo que acabamos de ver/receber no palco ou na área externa ao teatro. Larissa e Ringo são carismáticos, ok. Mas a fixação dos organizadores em "preencher" o tempo conspira contra as descobertas que poderiam advir do silêncio, do vazio ou do coxixo com o vizinho da pol

Rua!

foto: Elenize Dezgeniski O ator e diretor Chico Pelúcio, co-fundador do grupo Galpão (MG), fala sobre O trabalho em grupo e seus desdobramentos na comunidade O bate-papo com o ator e diretor Chico Pelúcio, sob o guarda-chuva d' O trabalho em grupo e seus desdobramentos na comunidade , transformou-se numa arena para os artistas locais trocarem impressões sobre a relação do teatro com o espaço público em Curitiba. Após a apresentação da cena conterrânea do convidado, Av. Pindorama, 171 , do Teatro 171, a platéia permaneceu e desembuchou. A certa altura, o co-fundador do grupo mineiro Galpão, lá se vão 26 anos, ficou em segundo plano, sentado em uma cadeira na boca de cena, enquanto a discussão seguia acalorada. “Se eu me apresentar na rua, tenho medo de ser preso pela Guarda Municipal”, disse um espectador. “A rua curitibana virou uma trincheira entre comerciantes. A XV de Novembro [a Rua das Flores, calçadão central] é um corredor polonês, só comerciante de um lado e de outro di

Amarelo banana

fotos: Elenize Dezgeniski Cena de Av. Pindorama, 171, criação coletiva do Teatro 171, de Belo Horizonte Coube a um trabalho mineiro o encerramento da Mostra na noite de segunda-feira. Av. Pindorama, 171 foi um dos selecionados este ano para o Festival de Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte. O projeto vai para a décima edição em 2009 e, como não poderia deixar de ser, influenciou o formato da Mostra Cena Breve Curitiba idealizada pela CiaSenhas. O espírito da carnavalização baixou no palco da Caixa Cultural com os “netos da Tropicália” que combinaram, entre outros tons e cores, deboche e crítica social sem cair no discurso. A partir do que se entende por um retrato local, a dramaturgia coletiva e a direção de Henrique Limadre promovem um vôo rasante sobre as periferias metropolitanas do Brasil, tão próximas e tão longes do sistema de moer gente que são os tempos financistas que correm. Uma estética pobre atravessa figurinos e adereços hiperbólicos, como a espelhar

Terrir

fotos: Luana Navarro Cena de O beijo no meio da noite , fragmento apresentado pela Vigor Mortis, de Curitiba É raro deparar com pesquisa cênica defendida com consistência e continuidade como o faz a Vigor Mortis, a temida companhia de Curitiba - com o perdão do trocadilho para com seus artistas que, faz 11 anos, dedicam-se a temas relacionados à violência e ao horror, como vimos nas montagens de Morgue story - O filme , Graphic e Hitchcock blonde . A estilização alcança patamares cada vez mais expressivos no jeito de contar e ilustrar histórias com a inclinação recente para o Grand Guignol, o gênero que irradiou da Paris do início do século XX e é refletido em O beijo no meio da noite , que encerrou o painel de cenas da Mostra no domingo - o encontro terminou de fato na noite seguinte, dia 10. Diretor e co-fundador da companhia, Paulo Biscaia Filho é um estudioso e um entusiasta do gênero suspense e suas possibilidades co-irmãs do cinema, fonte primordial nos projetos. O quadro oriun

Claro enigma

fotos: Luana Navarro Cenas de Sobre reparações necessárias , investigação da Obragem Teatro e Companhia, de Curitiba Nada maior ou menor que um toque, dizia o bordão de uma finada revista da editora Brasiliense, nos anos 80. Das letras para a pele, Sobre reparações necessárias intenta decalcar do corpo marcas de resignação e perversão humanas. Desdobra-se a missão de, nelas, entre elas, iluminar o paradoxo da resiliência, a tal da propriedade física que converte a deformação ao que antes lhe fora essência. Essa vereda da curitibana Obragem Teatro e Companhia é percorrida não sem poucos estranhamentos que, na recepção, geram ruídos e fluídos bons. É pesquisa de poucas concessões, vide o esmero artístico, porém seus criadores não economizam afeto em traduzir certos desvios da afetividade, ou ausência desta, na vida como ela está. Divisamos seres entre a carne e o verbo, a memória e o apagador, a visão e a cegueira, tudo nem tão gangorra assim nos duos e trios revezados por Eduardo Giac

Fala

fotos: Luana Navarro Cena de Na verdade não era o sinal de vai tomar no cu , da fusão Os Iconoclastinhas/Companhia Provisória O cenário é minimalístico e tem a ver com a forma como essa história é narrada, Na verdade não era o sinal de vai tomar no cu . Três banquinhos, três moças, três figurinos roxos e tons de luz, idem. Imóveis em suas posturas, sentadas, em pé somente em raros instantes, elas fazem o espectador mergulhar num fluxo que puxa para cá, puxa para lá e atualiza um pouco o espírito das transmissões radiofônicas de outrora em que o ouvinte, ou o grupo de ouvintes, deixa-se levar pela voz. Mas estamos no teatro, o edifício com a platéia frontal. A joint-venture Os Iconoclastinhas/Companhia Provisória experimenta parâmetros da fala, e de como se fala, em detrimento de outras concorrências cênicas, salvo pontualidades coreográficas brevíssimas. A aposta de Nina Rosa Sá, a diretora, é escoar solto o pingue-pongue dessas mulheres de línguas e pensamentos afiados na dramaturgi

Escuta

fotos: Luana Navarro Cena de Sobre reparações necessárias , fusão com dança contemporâneos pela Obragem Teatro e Companhia, de Curitiba É da natureza do teatro nos convocar a visão, mas algumas criações aguçam outros sentidos, como o tato, o cheiro, a escuta. Esta pediu contracenação à parte na noite de domingo que apresentou três grupos locais dos mais ativos. Na verdade não era o sinal de vai tomar no cu , da simbiose Os Iconoclastinhas/Companhia Provisória, demandou uma sintonia com a musicalidade da palavra. É a partir dela que vêm as imagens em uma cena fixada em mínimos elementos, essencialmente apoiada no osso verbal de três vozes que ricocheteiam feito Samuel Beckett. A escuta em Sobre reparações necessárias , da Obragem Teatro e Companhia, pede diálogo com silêncios interiores. O vocabulário dominante é o dos gestos e movimentos em três corpos que pulsam uma poética do orgânico, interdependência de braços, pernas, troncos e corações para ecoar memórias impregnadas. Os desvios

O látex, o esguicho e a capela. E o contrato!

fotos: Elenize Dezgeniski Três seqüências de Los juegos provechosos – incríveis réplicas de dinossauros robotizados em tamanho natural , projeto da Companhia Silenciosa, de Curitiba Assídua no histórico dos quatro anos desta Mostra, a Companhia Silenciosa cometeu uma “cena” das mais inquietantes. Los juegos provechosos – incríveis réplicas de dinossauros robotizados em tamanho natural , o título de implicações épicas risíveis desde largada, é um trabalho que veio para embaralhar as certezas e incertezas do lugar do teatro, do ator, do público, do cidadania (porque na dimensão da pólis) e da ética coligada a uma estética. Tudo coerente com os rumores dos projetos provocados desde que foi fundada em Curitiba, em 2002 - e dos quais acompanhei alguns, como Parasitas e Jesus vem de Hannover . Desconhecia essa disposição no currículo do grupo para intervir em espaços públicos ao ar livre e a bel-prazer do “acaso”, essa instância rara de deparar em estado bruto, já que os dias de hoje são da

Molduras abertas

fotos: Elenize Dezgeniski Cenas do projeto Monocromo biográfico , com a Barridos da Cena, de Curitiba Seja diante da tela em branco, seja do palco nu, o drama é o mesmo: como preenchê-los? Monocromo biográfico arrisca-se a promover interface entre as artes cênicas e visuais. E o resultado desse experimento é estimulante. Consegue a proeza de expor conceitos que são testados no próprio percurso com o espectador, transmitindo a sensação de obra aberta. Só que a interação já está prevista nas plataformas das dramaturgias que aplica: a palavra em cena e o vídeo documentário na tela. O performer Clovis Cunha também dirigiu, concebeu o projeto e co-assinou o texto com Giovana Salles Gregório, ambos integrantes do grupo Barridos da Cena. Ele entrecruza a pintura dominantemente azul do francês Yves Klein, cujos “monocromos” teve a chance de acompanhar numa das edições da Bienal de Artes de São Paulo, com os heróis de HQ Quarteto fantástico e com sua própria condição pessoal de artista. Daí

Que seja doce

Fotos: Elenize Dezgeniski Cenas de Quebre seu porquinho , criação do Teatro Albatroz, de Belo Horizonte, inspirada em Caio Fernando Abreu Belo Horizonte tem preenchido capítulo à parte no teatro destes anos zero-zero. Há uma geração de criadores, não necessariamente novos em termos cronológicos da vida, que se aventuram em trabalhos pontuados pelo despojamento nos recursos da cena, uma reinvenção muito peculiar da escrita expandida para além da palavra e a eleição de temas às vezes extremamente singelos e mobilizadores. Recém-ingressadas no grupo Teatro Albatroz, este com anos de estrada, as atrizes Júlia Branco e Ludmila Ramos se aproximam dessa leva com a cena Quebre seu porquinho , destacada no Festival Cenas Curtas do Galpão Cine Horto, um ano atrás. Ao lado de Wester de Castro, que assina dramaturgia e co-direção com as mesmas, elas tomaram um conto de Caio Fernando Abreu como ponto de partida, Para uma avenca partindo , com atalhos para Julio Cortázar ou mesmo depoimento pessoal

Narrativas d'eu

fotos: Elenize Dezgeniski A sessão de sábado começou do lado de fora da Caixa Cultural, com a Companhia Silenciosa, e depois adentrou o teatro propriamente dito com mais dois trabalhos na Mostra Cena Breve Os embalos de sábado à noite deram em bolhas de sabão a espocar em corpos de loiras “cachorras” lambendo o pára-brisa de um carro vermelho estacionado em frente ao teatro, sob flashes e uivos. Deram em mãos balançando o desejo na hora de tatear nus masculinos nas páginas projetados na tela sobre o sofá branco onde jaz um ator vestido de branco. Deram em cofrinhos de gesso coloridos caídos do céu e estilhaçados no tablado em que um amor tenta juntar seus cacos. As narrativas do eu vão cavando seu espaço cada vez mais profundo na cena contemporânea brasileira, como nos dão notícias proposições como Los juegos provechosos – incríveis réplicas de dinossauros robotizados em tamanho natural , da Companhia Silenciosa, de Curitiba; Monocromo biográfico , da Barridos da Cena, também da cidade

Subversão

fotos: Elenize Dezgeniski O grotesco, o manifesto e a intervenção do lado de fora do teatro em cenas de Gambiarra , com o grupo Elenco de Ouro, de Curitiba Nas edições do Festival de Curitiba, o Fringe paralelo costuma ser freqüentado por espetáculos locais que amam abusar do trash, do lixo, um álibi para o grotesco (do qual passam longe) e um atalho para expurgar as fixações com os temas sexuais. Não chegam a agredir, não ambicionam nada além do deboche e da bilheteria, já que a platéia é bastante assídua, infelizmente. Gambiarra , do Elenco de Ouro, tangencia esse mundinho trash e consegue emergir com mais tutano. A começar pela dramaturgia, de rara extração politizada, a serpentear questões-chave para os brasileiros e, sobretudo, paranaenses que fazem fronteira com o Paraguai, cuja Guerra da Tríplice Aliança é bem lembrada. A partir do preconceito com o vizinho, o autor e diretor Cleber Braga, que trabalhou com Amir Haddad (grupo Tá na Rua, do Rio), avança para outros estereótipos n

Aberração

foto: Elenize Dezgeniski Cena de A besta fera , com o Teatro Jabuti, de Florianópolis O Teatro Jabuti, que tem doze anos de atividades em Florianópolis, apresentou uma cena, ou melhor, um número de circo que destoou do conjunto da Mostra até aqui. Constrangeu com seu pouco jogo de cintura para lidar com o universo circense a que se propunha, visto com muita estreiteza, e ainda por cima flertar com o teatro de rua, que tampouco disse a que veio num palco italiano. A besta fera resultou uma coleção de equívocos. Nem o nariz-de-palhaço demove o domador/apresentador da falta de empatia, ao lado da musicista que toca acordeão e pandeiro. A fera anunciada é um boneco de Jabuti com um cabeção, um casco agigantado e de todo mal-ajambrado na operação de dois manipuladores, “visíveis” o tempo todo, num registro grosso do que se espera minimamente do teatro de animação. A premissa é boa, vá lá. A cena prepara com suspense a chegada do animal, a grande atração daquelas lonas. Poucos minutos depoi

A hora HH

fotos: Elenize Dezgeniski Cenas de Vermelho – tijoles-morango-sépia e sombra , com o Coletivo Joaquina, de Curitiba Curiosa e afetuosa a adaptação de A obscena senhora D , pelo Coletivo Joaquina, com a Manon Alves e a Déborah Vecchi em cena. Em São Paulo, vimos há pouco um solo de Suzan Damasceno para o mesmo texto, uma novela de Hilda Hilst. As atrizes refletem entrosamento: a fala às vezes em coro, a sincronia em gestos e movimentos em associação-livre com o teatro-dança, a ocupação precisa do espaço cênico múltiplipcado em vários tempos e lugares, trato sincero com os objetos que manuseiam. Senti falta do mesmo desvelo para com a palavra em si de HH. Ela perde potência em hiatos provocados por rigores formais, como no momento do ônibus, ou condução que o valha. Resultaram artificiosas a música em inglês, balada moderna, em contraste com os elementos regionais ou populares, além da transição caricatural para as velhinhas, ainda que curta. No mais, Manon e Déborah, que dividem também

Ser lúdico, ser lúcido

foto: Elenize Dezgeniski Cena de interação com platéia em Gambiarra , com grupo Elenco de Ouro, de Curitiba Um quê de espírito lúdico atravessou a segunda noite da Mostra. O espectador foi instigado a interagir, a contracenar de forma mais ativa. Duas cenas implodiram a chamada quarta parede em suas concepções, Vermelho – tijoles-morango-sépia e sombra , do Coletivo Joaquina, e, de modo mais transgressivo na relação com o espaço físico do edifício teatral da Caixa Cultural, Gambiarra , do grupo Elenco de Ouro, ambos de Curitiba. A besta fera , do Teatro Jabuti, de Florianópolis, fez alusão ao número típico do circo-teatro com o domador e um animal, no caso, o bonecão de um jabuti. As experiências chamam a atenção para a responsabilidade de brincar em cima daquilo, o Teatro. Faz parte do jogo entreter, mas a causa precisa ser muito, mas muito nobre. Causa lida como crença artística na cena, nos seus preceitos estéticos, na sua execução, sobretudo na capacidade de ser traduzida pelo seu

Capsular

foto: Elenize Dezgeniski Cena de 15 minutos para Ofélia , com o Teatro de Alvenaria (SP) 15 minutos para Ofélia foi o que o Teatro de Alvenaria, de São Paulo, encapsulou do espetáculo Ofélia em off (São Paulo conferiu uma versão em 2003), originalmente composto por 13 quadros, alguns deles calcados nas cartas que a personagem shakespeareana enviou ao irmão Laertes dando conta dos desalentos. Na apresentação, ficou a sensação de que tudo estava acelerado, num atropelamento de cucas e vaivéns que prejudicaram sensivelmente a recepção. Apropriar-se da personagem de Hamlet, de Shakespeare, para lê-la à luz da contemporaneidade é desafio digno. E nota-se que o plano conceitual está bem traçado no roteiro e na direção de Luciana Barone, vide a marcação dos atores, o desenho de luz, os recursos audiovisuais, o ímpeto manifesto de uma Ofélia aqui, outra menos convincente acolá. No entanto, resultou como se apertássemos a tecla FF para avançar a fita. O universo feminino também saiu prejudica

Inconsonância

foto: Elenize Dezgeniski Rosana Stavis em cena de Árvores abatidas, com a Marcos Damasceno Cia. de Teatro Foi a chance deste moço, finalmente, ver Rosana Stavis em atuação mais desbragada, de registro cômico ou tragicômico, um alívio depois de acompanhá-la em mergulhos profundos como no drama Psicose 4h48 , de Sarah Kane, ou mesmo no recente Sonata de outono , de Jon Fosse, atualmente em cartaz em São Paulo, no Coletivo Fábrica. A interpretação esbanja o domínio técnico para transitar de uma nota vocal à outra na hora de cantar, bem como equilibrar-se na variação de humores da corrosiva, triste e hilária figura da protagonista da história inspirada na obra homônima de Thomas Bernhard, Árvores abatidas . A cena deu a sensação de que avançou para quase a íntegra do texto, e aí acho que o diretor Marcos Damasceno, que também assina adaptação, talvez não devesse ter mostrado exatamente um projeto pronto, ou quase lá, no âmbito experimental do que me parece ser esta Mostra. Acompanho-o há t

Mistura e manda

fotos: Elenize Desgeniski Cena de Aranha marron não usa Roberto Carlos, com ACruel Cia. de Teatro, de Curitiba As colagens com imagens projetadas ao fundo em diálogo com o texto que tem as manhas de antagonizar “maçaroca” e “muriçoca” sem perder a elegância remeteram de chofre à escrita icônica de Valêncio Xavier no seu excepcional Mez da grippe , dos anos 80, livro que inclusive ganhou versão para o palco em julho passado, no Novelas Curitibanas, pela Pausa Companhia e direção do convidado Moacir Chaves, do Rio. Deixou boa impressão, para não perder o trocadilho, a participação da recém-nascida e curitibana ACRUEL Companhia de Teatro com a cena Aranha marrom não usa Roberto Carlos . As atrizes-criadoras Emanuelle Sotoski, Lígia Oliveira e Rubia Romani poderiam sucumbir à muleta da projeção de imagem. A sinopse até sugere uma poluição visual com o bombardeio de informações na ordem do dia, mas a grata surpresa é que o trabalho transcendeu à própria teia que vem tecendo. “As palavras co

A vastidão do mundo

Tomo a Mostra Cena Breve como painel de embriões de espetáculos que virão a ser, como o projeto sugere ou contorna. É a primeira vez que acompanho um encontro ponta a ponta. Não faz muitos anos, em Belo Horizonte, assisti, em noite única, aos melhores trabalhos contemplados numa edição da Festival Cenas Curtas organizado pelo Galpão Cine Horto. Entre os experimentos, foi apresentada a seqüência do que depois virou o Por elise do grupo Espanca!, evolução claramente conectada àquela gênese, como não poderia deixar de ser. Ontem, na noite de abertura, aqui em Curitiba, os três movimentos transmitiram, cada um a seu modo, o quanto uma proposta pode soar reducionista, na acepção mais direta da palavra, ao condensar (leia-se sacrificar) o espetáculo pronto (na medida em que possamos entendê-lo como tal) ao formato de estudo em processo da Mostra, como me pareceu 15 minutos para Ofélia ; o quanto uma proposta pode não conseguir editar um recorte, um caminho a contento para atender ao ¼ de hor

Breviário de chegada

foto: Elenize Dezgeniski mesa-redonda Teatro de grupo: uma poética de risco? Ontem, dia em que o planeta amanheceu Obama, passamos a noite a indagar se teatro de grupo constitui uma poética de risco. Arrisco que política também o seja. Pois elas, poéticas e políticas, disputaram espaços nas falas do trio debatedor vindo de São Paulo, a Claudia, o Francisco e o Valmir, este que segura a pena da vez no blog. A platéia, jovens em maioria, também perpassou questões de "como sobreviver" quando o X talvez estivesse no "por que sobreviver" da Arte do Teatro. Maiúsculos foram os desejos de que essa consciência saltasse ao primeiro plano nas motivações dos grupos, os que virão e os que aí estão. Claudia (Núcleo Bartolomeu de Depoimentos) e Valmir (jornalista) colocaram algumas palavras no papel, a serem partilhadas linhas adiante. Francisco, o Chico (Núcleo Argonautas de Teatro), deitou perguntas que foram dormir com a gente e não desgrudam. Chico não fez uso de mera metralh

Bem-Vindos

Olá. Bem-vindos à "IV Mostra Cena Breve Curitiba - A linguagem dos grupos de Teatro". Este Blog, que conta com postagem diária do jornalista Valmir Santos, está aberto a você para que também faça seu comentário sobre o encontro, os espetáculos, os debates. Fique à vontade e acompanhe a Mostra que acontece de 5 a 10 de novembro no Teatro da Caixa. As sessões acontecem sempre às 20h. Os debates sobre as cenas da noite anterior, sempre às 11h. Boa jornada a todos!