foto: Elenize Dezgeniski
Cena de A besta fera, com o Teatro Jabuti, de Florianópolis
O Teatro Jabuti, que tem doze anos de atividades em Florianópolis, apresentou uma cena, ou melhor, um número de circo que destoou do conjunto da Mostra até aqui. Constrangeu com seu pouco jogo de cintura para lidar com o universo circense a que se propunha, visto com muita estreiteza, e ainda por cima flertar com o teatro de rua, que tampouco disse a que veio num palco italiano. A besta fera resultou uma coleção de equívocos.
Nem o nariz-de-palhaço demove o domador/apresentador da falta de empatia, ao lado da musicista que toca acordeão e pandeiro. A fera anunciada é um boneco de Jabuti com um cabeção, um casco agigantado e de todo mal-ajambrado na operação de dois manipuladores, “visíveis” o tempo todo, num registro grosso do que se espera minimamente do teatro de animação.
A premissa é boa, vá lá. A cena prepara com suspense a chegada do animal, a grande atração daquelas lonas. Poucos minutos depois de revelá-lo, porém, o roteiro desanda, não convence no antagonismo do título que tenta sugerir naquela relação de forças homem-animal. A fragilidade se impõe, principalmente nos parcos recursos dos intérpretes, tornando o tempo mais arrastado – e não por culpa dos passos até acelerados do pobre jabuti.
Dia desses, assisti ao filme O homem elefante, de David Lynch, todo rodado em preto-e-branco, em que visita a exploração das deformidades de um homem sem cair no sensacionalismo de expor o personagem em closes ou afins. O horror transparece mais pelo olhar do outro. Faquires em camas de prego e outros artistas da fome, freaks, aberrações, laivos de uma Revolução dos bichos, nada disso foi visitado em A besta fera, mas deu o que pensar nessas alternativas, nessas leituras que, quem sabe, levasse o Teatro Jabuti a um projeto experimental mais consistente.
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