O ator e diretor Chico Pelúcio, co-fundador do grupo Galpão (MG), fala sobre O trabalho em grupo e seus desdobramentos na comunidade
O bate-papo com o ator e diretor Chico Pelúcio, sob o guarda-chuva d'O trabalho em grupo e seus desdobramentos na comunidade, transformou-se numa arena para os artistas locais trocarem impressões sobre a relação do teatro com o espaço público
“Se eu me apresentar na rua, tenho medo de ser preso pela Guarda Municipal”, disse um espectador. “A rua curitibana virou uma trincheira entre comerciantes. A XV de Novembro [a Rua das Flores, calçadão central] é um corredor polonês, só comerciante de um lado e de outro disputando os clientes”, disse outro participante. “O pessoal de teatro deveria ser mais aguerrido, exigir mais, desenhar na prancheta e ir atrás”, criticou um terceiro. “É preciso ter consciência histórica do teatro de rua”, disse um ator.
Chico Pelúcio ponderou que a crise é, de certa forma, generalizada. O teatro de rua recuou em suas atividades em várias praças do país. São muitos os fatores, mas, do ponto de vista do artista, ele defende arregaçar as mandas e fazer – se essa for a vocação de um coletivo. “É preciso ser propositivo e criar conexões”, disse. Citou a própria trajetória do Galpão, cuja gênese está na ocupação de ruas e praças de Belo Horizonte. Anunciou que, após dez anos, o próximo espetáculo do grupo, em 2009, marcará justamente o retorno ao ar livre.
O diretor criticou o que chama de “apologia ao teatro social, um erro, uma onda que ainda bem que está passando”. Disse que “não cabe a nós acabar com a violência, cabe a nós fazer nossa arte para o cidadão”. Fez uma defesa apaixonada dos processos criativos em grupo, do empenho colaborativo, da necessidade de se ter uma casa, uma sede, e de as experiências vingarem na forma de um espetáculo.
Fez pontes com o Movimento Teatro de Grupo de Minas Gerais, na década de 1990 e na ativa, e com o Redemoinho – Movimento Brasileiro de Espaços de Criação, Compartilhamento e Pesquisa Teatral, nascido em 2004 no Galpão Cine Horto, um antigo cinema localizado na mesma rua da sede do grupo na zona leste da capital mineira.
“É preciso buscar diálogo com quem dá espaço para o diálogo”, disse Chico Pelúcio, sobre a estratégia de relacionamento com as secretarias e fundações públicas mais afeitas a uma política cultural de fato. E se disse bem impressionado em conhecer a versão curitibana do Festival de Cenas Curtas que o Galpão Cine Horto lançou em 2000. Saiu torcendo para que a discussão sobre o teatro de rua indique, por si só, que há, sim, espaço para essa manifestação artística nas ruas da cidade e no coração dos artistas que a ela se disponham.
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