Por Valmir Santos
As flores de obsessão das peças e crônicas de Nelson Rodrigues são apanhadas sem intenções literais em Batata! O grupo Dimenti prefere colocar a exclamação em outros códigos: de como esses homens e mulheres passeiam pelo espaço cênico com partituras gestuais, movimentos e ações que procuram dizer o melodrama de outra maneira, usando outra língua.
A dramaturgia e a direção de Jorge Alencar é tributária da dança, campo pelo qual o núcleo transita desde o final dos anos 1990. Transcorrem quadros preenchidos com dispositivos repetitivos ou circulares, a envolver a escrita do giz no chão, a sonoridade da campainha e dos copos descartáveis, resultando um tabuleiro de sensações em que o texto fragmentado mais situa do que conduz.
Instiga como a encenação alude com inteligência a trechos de cena, como na Zulmira de A Falecida. E como esquadrinha limpeza cênica desde as rubricas na voz de um dos atores, espécie de alter ego de Nelson, passando por referências na metáfora de uma lousa em que se desenha e se apaga tal as cenas ou ainda no duplo sentido de frasco de ketchup. Fraquezas e cegueiras do desejo.
Para esse teatro-dança de situações, de estalos para mudanças de estados narrativos, a apresentação no Sesc da Esquina, na sequência da abertura da 7ª Mostra, soou em descompasso diante das proposições inventivas peculiares à pesquisa do Dimenti. Era flagrante um desnível na energia do elenco e a preocupação com as marcações. A sessão se arrastou. Em condições assim complica ainda mais quando os intérpretes são eles mesmos os contrarregras. Alencar se sobressai no septeto, denota mais experiência, repertório físico, graça e desenvoltura tragicômica, tudo que demanda flanar por entre os vãos das almas rodriguianas com as bem traçadas linhas dessa criação tão específica.
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