Por Valmir Santos
Como esses dois rostos e corpos consagrados do cinema sobreviveriam na era da saturação das imagens? Em Sophia Loren Não É Marlon Brando, a Companhia Subjétil coloca as duas épocas em contraste (o presumido glamour dos anos 1950 e 1960 e o pastiche atual). Ser e parecer são os verbos expostos em crise de auto-estima ou em seu excesso. Os biótipos de Vanessa Benke e Lucas Buchile estão longe das silhuetas em pauta. Ótimo ponto de partida.
O texto e a direção de Darlei Fernandes jogam com as contradições da imagem. Suas figuras querem ser vistas, seguem o script nos gestos e vestimentas, na sedução a toda prova. Elas são trazidas para o espaço cênico arrastadas por um homem que faz às vezes de um diretor, seu clichê. É ele quem, afinal, inicia tudo ao adentrar pela janela do teatro, megafone em punho. Redivivos, a Sophia e o Brando de Vanessa e Buchile discursam sobre a consciência de serem eles mesmos ou serem outros. Ela é mais desenvolta nesse trânsito.
Os ícones evocados acabam ratificando o desgaste da reprodutibilidade nos dias atuais. São apêndices na dissertação da Subjétil sobre o imperativo do descartável . O conteúdo desse processo resvala de modo parcial na analogia do aceleramento midiático moldando as relações. A transposição para a cena derrapa no anedótico, engolida justo pela força dos emblemas que elege. A crítica termina em baixo relevo.
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