Por Valmir Santos
O império do acaso bem combinado. Na era digital absoluta, o núcleo Expressão Criação captura o aleatório para a sua rede organizada no amontoado de informações. O espaço cênico vira uma globosfera surrealista com suas distorções que não estão na tela, mas na teia de cena, na logorreia de frases desconexas que ao final se arranjam. Um sujeito de perna cortada e carregada a tiracolo. A loira de vestido longo e falas sentenciosas sobre artes e exposições. O infomaníaco com suas decifrações do sistema. Uma sapa vestida de noiva, vermelho dos pés à cabeça de grinaldas antenadas.
Em meio à aparentemente despretensão, na xepa de frutas decepadas, seus sumos a perfumar o ambiente, Apple Store & As Subfrutas da Estação destila humor parafraseado por imagens pinceladas na paródia. Serve-se da memória epistolar de dois nomes-chave da arte contemporânea brasileira, Lygia Clark e Hélio Oiticica. São excertos de cartas lançados ao liquidificador para abrir outras janelas que possam revelar outras faces do presente de fronteiras diluídas.
Há irreverência e certa iconoclastia emprestada dos artistas plásticos reverenciados nessa proposta que o grupo ambiciona configurar espetáculo futuramente. O que se vê condensado em cena curta é uma provocação bem fundamentada do tema abordado e sua complexidade natural, mitificada ainda sob a personalidade de Steve Jobs, o fetiche por tablets e afins. Resta muita dispersão no material disposto, mas o prenúncio de uma real conexão com o público já está lançado.
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