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Nolasco, Melina e Machado estão entre os 'Outros Sobreviventes' } Elenize Dezgeniski |
Nem a fascinação nem a resignação. “Essa é a nossa linguagem!”, alguém avisa. O caminho do meio expandido e forrado de aptidões possíveis. A ação cênica “Outros Sobreviventes”, do Coletivo Mamulengos de Mameluri, mergulha no vale dos vácuos desencantados e de lá processa a capacidade de resiliência em produzir transformação, moto-contínuo de quem lida com arte. Há um pendor cumulativo na capacidade gregária de atrair trabalhadores cênicos de outros grupos de Curitiba e fazer do palco o seu terreno baldio a ser ocupado por/de figuras estranhas, objetos de filiações as mais diversas (livros, sofás, galões, figurinos soltos, etc.). Não deixa de ser uma demarcação para libertar-se daquilo que te prende: o teatro. Sobretudo seu desenho físico gerador de expectativas amortecidas, ou assim alimentadas pela maioria conformista daqueles que o habitam provisoriamente, independente da natureza arquitetônica do espaço. Desse amontoado em desordem crescente migramos para outras percepções. Há uma melancolia latente na figura da gralha azul estacionada sobre o banquinho-poleiro. O pássaro ícone da cultura paranaense e de sua principal premiação teatral fica inerte durante quase toda a apresentação. Um sintoma? Há passagens de abismos silenciosos, como se apelassem à afasia ao dispensarem qualquer juízo e reconhecerem a ignorância a respeito de tudo que transcenda as possibilidades cognitivas do ser humano. A diretora, “zeladora” e atriz Má Ribeiro orquestra esse devir mal-ajambrado, de tempo dilatado, de instrumento de sopro entupido como a pedra no meio do caminho da realidade em desmonte. Ideologia versus distopia. Experiência de arranque nas fendas, nos inacabamentos. A abertura dos fundos do Zé Maria Santos, como vem se repetindo, é a metáfora para saídas. Um cartaz, mediação que também reincide na presente edição da mostra, anuncia e pede “Cuidado in progress”. A vida lá fora e aqui dentro anda bruta, carece de atenção e força. Nesse manifesto cênico antimonotonia, que não esconde “milágrimas”, funções e desvios não são o que são e dispensam o ocaso: o “biscate” Luciano Faccini, o “carnavalesco” Gabriel Machado, o “vedetismo” de Leo Bardo, “a bailarina de perna curta” de Melina Mulazani e o “situacionista” Ricardo Nolasco. O trabalho dessa turma emociona com seu gosto de sal em lágrimas. (Valmir Santos)
Má Ribeiro e Machado: flerte com vitalidade e melancolia } Elenize Dezgeniski |
Comentários
Vida longa à Selvática...
Bj especial ao meu filho Leo Bardo!