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Pecinhas para uma tecnologia do afeto – o teste – Teatro de ruído


O grupo Teatro de Ruído apresentou sete pequenas cenas espalhadas pelo espaço do Teatro da Caixa, todas em fase de experimentação – e por isso o subtítulo “em teste”. O espectador fica livre para escolher se assiste a uma cena ou se tenta transitar pelo espaço, para assistir pequenos trechos de duas ou mais cenas. Quem não conhece o grupo fica sem ter nenhum critério pra fazer uma escolha, sem nenhum norte que dê uma sugestão de por onde começar. Muitas pessoas, como eu, acabaram não vendo praticamente nada. Outras, que acompanharam alguma cena do início até o fim, ficaram sem perceber o que as cenas poderiam ter de comum, salvo pelos rastros dos dispositivos cênicos espalhados pelo espaço.

Mesmo assim, foi possível perceber uma preocupação do grupo com a visualidade das cenas como partes de um todo, o que se expressava por um tratamento comum nos figurinos: os mesmos materiais, cores e texturas. Por outro lado, não havia uma preocupação com a visibilidade das cenas. É como se o público não tivesse sido levado em consideração, como se o número de pessoas previstas ou o tempo de trânsito entre uma cena e outra não tivessem sido pensados. A tecnologia do afeto, que aparece no título do trabalho, poderia estar mais presente na apresentação, na medida em que o afeto acolhe, aproxima, convida o outro a estar junto. Os dispositivos cênicos pareciam isolar um pouco os atores. A comunicabilidade parecia acontecer num nível mais direto com os espectadores que permaneceram na mesma cena do início ao fim.

É provável que isso se dê pela falta de uma pessoa responsável pela direção. A ficha técnica apresenta apenas uma coordenação, não uma direção. O olhar de um diretor talvez tornasse a obra um pouco mais visível, talvez pensasse que colocar oito cenas em 15 minutos pode não ser muito generoso com o espectador. Quando alguém sai do teatro dizendo “queria ter visto mais”, isso não é necessariamente um comentário elogioso, embora o grupo tivesse de fato despertado no público presente o interesse pelo trabalho. De certo modo, é possível pensar que o grupo não deu conta de mostrar o que tem dentro do tempo proposto para o número previsto de espectadores.
Por Daniele Avila
Foto: Elenize Dezgeniski

Comentários

Anônimo disse…
nossa! não concordo meeeeeeeeeeeesmo!
Anônimo disse…
legal daniele ler suas opiniões. fico bem feliz com o exercício da crítica numa mostra como o cena breve. claro, não precisamos concordar em tudo. também não precisamos concordar em nada. de qualquer modo, vou ficar aqui pensando pensando pensando. é de fundamental importância essa conversa. obrigado. bj desse novo amigo. leprevost.
Anônimo disse…
rs..rs... hoje mais do que nunca a arte exige o minimo de disposição do espectador, se você não viu nada, não verá em qualquer outro trabalho porque já tem sua idéias pré-concebidas, e mais a obra só acontece no espaço que o espectador se dipõe a dar a ela.
Anônimo disse…
ê pessoal que não aceita críticas. Faz parte de ser artista! Concordo que não dava pra ver nada. As pessoas acham que qualquer coisa é arte.
Anônimo disse…
Meninada que não sabe o que está fazendo!
olha, acho que esta pessoa assinando as "críticas" da mostra não tem abrangência intelectual ou moral (sei lá) para escrever sobre trabalhos tão variados. Neste post, por exemplo, fica claro que ela não sabe o papel fundamental que a direção exerceu sobre a dramaturgia (e junto com ela, também...), e ainda por cima subestima a inteligência do público. Demonstra uma visão política autoritária em seus julgamentos de valor. Uma pena.
Mister Wild disse…
Não faz parte de ser artista aceitar críticas equivocadas coisa nenhuma!!!!Faz parte de artista alienado, isso sim.
Defender o seu trabalho, ou qualquer trabalho que tenha gostado, é acreditar neste. Curitiba tem este péssimo hábito: o do bom meninismo (com o qual é impossível se fazer arte).
Ana Ferreira disse…
Os diferentes retornos da obra têm sido muito interessantes. Nós do Teatro de Ruído estamos aqui, ouvindo tudo e relevando algumas coisas. No fim, o saldo é sempre positivo. Obrigada.
Nina Rosa disse…
Este espaço do blog, bem como o dos debates da Mostra, são importantes justamente por isso: para que as pessoas possam se posicionar. É interessantíssimo para nós ouvir - nesse caso ler - as opiniões mais diversas. Ainda mais em se tratando de uma obra tão aberta como esta que propomos. E é claro que estamos interessados numa estrutura cênica que possibilite acessibilidade. Mas também não podemos nivelar por baixo. Acho possível que o público se identifique com a obra sinestesicamente.
Quanto a colocação sobre a ausência de direção, bem, a nomenclatura coordenação me pareceu mais interessante porque a minha preocupação na concepção do projeto foi muito mais na encenação do que no trabalho com os atores, que trabalharam entre si.
E por afeto também entendemos estes obstáculos que obrigam as pessoas do público a se enxergar, a se tocar. E a frustração gerada pela incapacidade de ver o todo também é afeto. Talvez nós sejamos uma meninada que não sabe o que está fazendo. Mas só o fato deste post ter o maior número de comentários me faz acreditar sinceramente que é justamente o contrário. Afetivamente se discute. E agradeço sinceramente a todos que de alguma forma participam e contribuem com esta discussão.
Anônimo disse…
FAIADAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Anônimo disse…
por que onde tem a mão da nina e do leprevô tem pol~emica?
Anônimo disse…
Moça, você nasceu no século XVII?
Anônimo disse…
!!??!!
Anônimo disse…
acho que só o fato de existir esse espaço, já estamos no lucro. se os grupos mostraram a proposta que querem e acreditam, também podem podem ouvir o que querem e também o que não acreditam. o mais difícil é ouvir, e/ou ler. estamos aqui pra falar pro mundo, pra falar do mundo, e não podemos ouvir da gente? o que é isso pessoal teatro de ruído, silenciosa, 5 cabeças, portátil e todas se mostraram e estamos aqui falando do trabalho deles....que ótimo. temos como tirar proveito de tudo, mas tem que se querer tirar proveito, agressividade e tapar os ouvidos não leva a nada a não ser a incomunicabilidade, e nós artitas estamos aqui pra se não pra se comunicar, vamos deixar de ser imaturos e vamos aproveitar esse espaço pra falar coisas mais interessantes que não concordo e não concordo, e apontar as "falhas", se é que existem (pois todos temos considerações de qualquer trabalho) de quem se dignou a olhar p/ nossos trabalhos e escrever algo de seu ponto de vista, onde que temos um espaço assim em curitiba....quem nos olha.....eita nóis!!!!
Anônimo disse…
Estou contribuindo com Mais um comentário, pois se não 10 cometarios dessa pagina que são do leprevot nao o levaria a vitória e sim a um empate técnico....hehehe

Verdade ou nao essa garota da critica é uma sem noção.
Anônimo disse…
Concordo que a critica não ficou boa, mas a reação de vocês comprovam que ninguem em curitiba sabe receber criticas. as cias dessa cidade deveriam entao se apresentar num quarto com espelhos, assim ficariam satisfeitas com o resultado.
Anônimo disse…
boa!

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