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5 cabeças à espera de um trem – Cia 5 cabeças


A cena “5 cabeças à espera de um trem”, da Cia 5 cabeças, é uma cena fechada, bem acabada, que se propõe a ser uma obra em 15 minutos, não uma cena de uma peça ou uma amostragem de um processo. Nesse sentido, a Mostra é aberta para todas as possibilidades de cena e, dentro do conjunto de trabalhos apresentados, pode-se perceber que a escolha dos grupos é bem variada. Isso torna a Mostra muito interessante do ponto de vista da experimentação e do intercâmbio de linguagens. Para o público interno da Mostra, essa é uma característica bastante positiva. Mas, para o público externo, talvez nem tanto.

A cena da Cia 5 cabeças traz essa questão para a Mostra, mesmo que isso não esteja previsto pelo grupo ou pela cena. O trabalho desse grupo poderia interessar a qualquer espectador, até o menos comprometido com o teatro. Ao longo da Mostra, foram vistas cenas em processo a que se tentou dar um tratamento de finalização e cenas autônomas que tinham aspectos pouco resolvidos. A partir desse ponto, cabe perguntar em que medida o evento como um todo pode se abrir um pouco mais para o público e em que medida é melhor que ele permaneça nesse mesmo formato. Ficou a impressão de que quando um grupo vai mostrar um processo, ele pensa em mostrar só para os colegas, como se não houvesse espectadores na plateia. Por outro lado, outros grupos pareciam estar fazendo cena apenas para o seu próprio público. Entendo que tudo isso faz parte da Mostra e que este é um aspecto rico da proposta de um modo geral. Mas, em várias cenas, fiquei com a impressão de que a fruição do espectador, de um espectador qualquer, não era exatamente uma questão, que tudo se tratava mais dos modos de fazer do que dos modos de dar a ver.

Com isso, me desviei bastante do comentário sobre a cena em si, mas é que, a meu ver, a apresentação da cena chegou num ponto de relação com o espectador tão diferente das outras (e aqui não estou falando de qualidade, mas de proposta mesmo e talvez até de postura) que não me parece fazer sentido falar sobre ela como se fosse simplesmente mais uma cena. Talvez seja o caso de pensar um pouco nas questões levantadas pelas cenas e comentadas nos debates mais no que diz respeito às cenas como obras – mesmo que em processo. Talvez faça sentido pensar a questão das linguagens dos grupos, dos registros de atuação e de outras questões importantes para os artistas, menos como pesquisa interna e mais como questões da externalidade das cenas.
A cena da Cia 5 cabeças me fez vislumbrar a possibilidade de uma maior abertura da Mostra para o público da cidade como uma provocação para os grupos: conquistar território na cidade através deste formato de cena breve. Além do intercâmbio que já acontece entre os grupos e que, naturalmente, tem por si só um grande valor, poderia acontecer também um intercâmbio maior entre os grupos e o público da cidade.

Por Daniele Avila
Foto: Elenize Dezgeniski

Comentários

Anônimo disse…
gente...minha nossa!! Cade o Valmir santos!? Como ele faz faltaa!!!
greice barros disse…
NOSSA!!!!! EU QUE NÃO TE ENTENDI?! VALMIR?? RSRSRSRS QUESTÕES TÃO RELEVANTES PRA MOSTRA COMO UM TODO....ACHO QUE NÃO SABEMOS DISCUTIR MESMO!!!!
Anônimo disse…
Desculpe-me por não me identificar e pela forma incisa que escrevo. Talvez de fato faça sentido a análise de uma cena sem muitas delongas e sem puxar sardinha exessiva para a mostra... a mostra... a mostra... Cadê os conhecimentos teatrais? Cadê a crítica (lembra de que criticar não é falar mal hein!!), cadê o Valmir!!!?????
Anônimo disse…
excessiva!!!!!
tonyblasted disse…
"5 cabeças à espera de um trem-CIA
5 cabeças" Foi surpreendente.Assisti no espaço da
Vila Marçola.E vi como a peça,apesar de rápida,atingiu um público heterogêneo,crianças e pais
se divertiram e acho que até mesmo os atores ficaram emocionados com a
participação de todos.Cenograficamente perfeito.Valeu!

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