Foto: Elenize Dezgenisk
Texto: Daniel Schenker
A disposição em produzir “equivocações” no público norteia, em certa medida, a construção de Com Amor, cena da companhia Teatro de Breque. A diretora Nina Rosa Sá, a partir de texto de Luiz Felipe Leprevost (concebido em processo colaborativo), lança pistas enganosas, surpreendendo a plateia, a cada momento, ao mudar o direcionamento da cena. O espectador tem a falsa impressão de que domina o que assiste para, em seguida, ser desestabilizado por uma guinada.
De início, vozes em off trazem à tona as várias fases de um relacionamento amoroso. Os atores Pablito Kucarz e Uyara Torrente dão partida a um texto que parece tão-somente ambicionar a identificação imeditada do público com a esfera cotidiana dos altos e baixos de uma relação, como tantas montagens dos dias de hoje. Em seguida, porém, começam a discorrer, de forma crua, sobre intimidade sexual, rompendo a possibilidade de um “agradável” processo de identificação.
A projeção de imagens de infância emoldura a cena, enquanto os atores evocam o passado, lembrando de “alguém enclausurado numa beleza infantil”. Trocam as roupas cotidianas por figurinos de gala, retomam a fala sobre intimidade e evidenciam, através de pouca movimentação pelo espaço, o que talvez seja o núcleo do texto: a percepção do tempo que passou, do que não tem volta, do descompasso entre tudo aquilo que se sonhou e o que efetivamente aconteceu.
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