Foto: Elenize Dezgenisk
Texto: Daniel Schenker
Para além da questão do vácuo afetivo que atravessa a cena do núcleo Cães Lacrimosos, Clovis Cunha e Ricardo Nolasco propõem um desafio no campo da atuação: a construção da narração, seja no que se refere ao distanciamento suscitado pelo uso de terceira pessoa para falar de si, seja, principalmente, à necessidade de presentificar a fala nos momentos de evocação de fatos passados. Clovis Cunha apresenta, com certeza, um dos trabalhos mais consistentes da 6ª Mostra Cena Breve de Curitiba.
Dois atores/personagens não se olham e encaram o público de frente. Aos poucos, rompem essa demarcação rígida e se aproximam. Um encosta a cabeça no ombro do outro. Em off, flagrantes de desolação: som de ocupado, celular fora de área, descrição algo melancólica do cotidiano, música brega que comenta o estado emocional em questão. Os atores/diretores, valorizados pela iluminação de Henrique Saidel, estruturam a cena entre extremos de encontros e desencontros, presente e passado. Evidenciam o sofrimento e se descolam dele através de comentários satíricos.
Comentários
Mas eu gosto mais do que o trabalho representa como potencial, do que ele pode vir a ser além da cena de teatro, os desdobramentos que ele pode ter em outros suportes, que ele certamente pede. Eu quero poder ouvir os outros conselhos, as outras músicas, participar, quero conhecer o restante das histórias, sem texto decorado, sem um tempo determinado pra fazer isso. Tudo isso o formato impede.
Conversando com os meninos, eles disseram que têm o plano de produzir uma exposição. Estou aguardando ansiosamente.