O que a Companhia Silenciosa traz para a Mostra Cena Breve é um recorte de 15 minutos de um espetáculo pronto, que acontece num espaço que não é de teatro, mas um lugar de festa, ao longo de 6 horas. A princípio, não se trata exatamente de um espetáculo teatral, mas, pelo que foi possível perceber, de uma série de números não necessariamente interligados. No entanto, a transposição do trabalho para o contexto da Mostra altera o estatuto do trabalho quase automaticamente. Isso não parece ter sido levado em consideração pelo grupo, de modo que a cena apresentada se aproxima mais de uma encenação de números de música e dança, uma espécie de representação mimética do que seria um show.
A ideia apresentada ao espectador na sinopse de "Burlescas Boogie-Woogie" aponta para a problematização e a relativização de alguns tópicos, mas o que se pode ver em cena é um bloco único, uma amostragem da noite clubber ou de uma estética do travestimento. Os atores parecem muito colados, muito aderidos ao que mostram, de uma forma que não abre fissuras para a relativização nem para a problematização. Em cena, não há contrastes: as três partes apresentadas ilustram um mesmo universo e a mesma abordagem deste universo.
A relação que fica visível entre os artistas e o que está sendo mostrado é a do fetiche. Não há como vislumbrar um atravessamento, um olhar artístico, uma atitude crítica para com o universo retratado. O que se vê é apenas um retrato. O flerte com a performance, por exemplo, não aparece. É claro que por “performance” pode-se entender muitas coisas, mas o que parece ser muito marcante na performance é a presença exposta do sujeito artista, do discurso – mesmo que visual – do artista. No trabalho apresentado pela Companhia Silenciosa, os sujeitos estão escondidos, protegidos atrás de uma série de artifícios de espetacularidade. Os artistas estão calados, mesmo quando cantam ou gritam no microfone. O que eles têm a dizer sobre o que estão mostrando não é perceptível.
Se, no contexto original das cenas, essa ideia de problematização, de relativização, acontece, vale observar que na transposição para o palco, isso ficou perdido. Mas não é novidade que o contexto de apresentação interfere diretamente na obra. Por isso, é difícil imaginar que isso simplesmente não tenha sido levado em consideração, o que leva a pensar que talvez a problematização não exista nem mesmo no contexto original.
Por Daniele Avila
A ideia apresentada ao espectador na sinopse de "Burlescas Boogie-Woogie" aponta para a problematização e a relativização de alguns tópicos, mas o que se pode ver em cena é um bloco único, uma amostragem da noite clubber ou de uma estética do travestimento. Os atores parecem muito colados, muito aderidos ao que mostram, de uma forma que não abre fissuras para a relativização nem para a problematização. Em cena, não há contrastes: as três partes apresentadas ilustram um mesmo universo e a mesma abordagem deste universo.
A relação que fica visível entre os artistas e o que está sendo mostrado é a do fetiche. Não há como vislumbrar um atravessamento, um olhar artístico, uma atitude crítica para com o universo retratado. O que se vê é apenas um retrato. O flerte com a performance, por exemplo, não aparece. É claro que por “performance” pode-se entender muitas coisas, mas o que parece ser muito marcante na performance é a presença exposta do sujeito artista, do discurso – mesmo que visual – do artista. No trabalho apresentado pela Companhia Silenciosa, os sujeitos estão escondidos, protegidos atrás de uma série de artifícios de espetacularidade. Os artistas estão calados, mesmo quando cantam ou gritam no microfone. O que eles têm a dizer sobre o que estão mostrando não é perceptível.
Se, no contexto original das cenas, essa ideia de problematização, de relativização, acontece, vale observar que na transposição para o palco, isso ficou perdido. Mas não é novidade que o contexto de apresentação interfere diretamente na obra. Por isso, é difícil imaginar que isso simplesmente não tenha sido levado em consideração, o que leva a pensar que talvez a problematização não exista nem mesmo no contexto original.
Por Daniele Avila
Comentários
Permitam-me dizer que penso que o que acontece aqui, neste ano de 2009, terá sido um completo engano da parte da organização da Mostra. Contratar ou coisa que o valha uma "jornalista/crítica" lixosa (talvez a verba deste ano tenha sido mal dividida e por isso a contratação de alguém [alguém quem???] mais barato, mais inferior), sem o menor entendimento sobre teatro (que dirá linguagem de grupo), com uma visão destrutiva, preconceituosa e pouco articulada sobre o que pensa dominar é, definitivamente, um passo em direção ao retrocesso.
Digo isso com relação ao que a Mostra tem conseguido ano após ano em termos de linguagem de grupos mesmo, como foi o exemplo do ano passado, que, ao menos, se preocupou com críticos interessados de verdade no assunto e interessados no crescimento das linguagens dos grupos.
Esta senhora posta para fazer esse serviço nesse ano simplesmente não sabe o que é o vaudeville, o teatro de variedades, o de revista, o burlesco, NADA! Simples assim: nada! Ela não absorve nada e, por consequência disso, não tem nada para passar adiante.
Seria interessante começar a pensar em gente mais abalizada e preocupada para assumir esta função nas próximas edições. Fica a dica.
Não é do interesse de ninguém, absolutamente, que uma pessoa SÓ fale mal do que os grupos fazem, falando mal, assim, do próprio evento do qual participa.
Isso NÃO É crítica de teatro.