“Looners”, a cena do Elenco de ouro, parece ter abandonado um pouco, de um modo geral, o ponto de partida apontado no título, mas a referência aparece na cenografia: à frente de um fundo branco, um grande arco de balões vermelhos e brancos; em cena, uma gueixa. Assim, a cena associa a imagem do balão com uma imagem de fetiche. Mas os “looners” (pessoas que se excitam com balões de látex) ficam um pouco de lado.
Na cena, a gueixa faz uma coreografia enquanto uma voz masculina fala em off. O humor obscuro da cena como um todo é prejudicado pelo tom desta voz em off, que mostra que o autor do discurso carrega os seus questionamentos mais como um fardo, do que como uma bagagem. A voz do ventríloquo, aquela voz que fala através de uma imagem muda, é interessante quando ela se entorta nesse trânsito entre imagem e fala. Na cena em questão, há uma separação entre imagem e fala, elas não se contaminam.
Um outro ponto que pode ser apontado é o teor do texto gravado. A lida com conceitos e referências teóricas é importante para o artista quando ele se deixa atravessar por essas referências, mas querer levá-las literalmente para a cena pode ser um tiro no pé. É preciso ter um certo cuidado para não se levar a sério demais como pensador na hora de colocar as ideias em cena. Não porque o espectador “não vai entender” as referências, mas porque as referências perdem a força se elas não forem processadas, se elas não forem transformadas em objeto estético.
Por falar no espectador e na sua capacidade ou incapacidade de entender o que está vendo ou ouvindo, uma fala me chamou muito a atenção. Em determinado momento, a voz em off se dirige diretamente ao público, dizendo para o público parar de olhar para a frente porque o que tem no palco é só uma atriz, como se o espectador fosse uma criança iludida por alguma mentira. É muito comum que o teatro trate o espectador desse modo. Mas o espectador é tão inteligente quanto qualquer artista e o espetáculo não é a sombra na caverna de Platão, não é uma ilusão perversa que distrai o homem da visão da “verdade”. O espetáculo é algo que o ser humano pode ver, um objeto sobre o qual ele pode refletir, conversar, trocar ideias. Subestimar a capacidade cognitiva do espectador ou sugerir uma supressão do espetáculo não subverte a relação do espectador com a obra, mas corre o risco (e aqui não se trata do risco no bom sentido, da ousadia, da experimentação) de alienar o espectador.
Por Daniele Avila
Foto: Elenize Dezgeniski
Foto: Elenize Dezgeniski
Comentários
Com esta frase não parece que ela considera o espectador tão inteligente como qualquer artista...Na verdade...em todas as criticas ela e seu cristianismo exacerbado não parece acreditar em qualquer luz de inteligência no público...apenas nela mesma.
De fato Mister Wild e "Anônimo" tem razão quanto ao perigo de suas colocações: "...não se levar a sério demais como pensador na hora de colocar as idéias em cena."? Soa estranho. Não faço entretenimento, caríssima, nunca estive interessado em fazer. Para isso existem a televizão e as comédias fáceis da Treze de Maio. Talvez elas tenham mais disso que você chama de "respeito ao público". Talvez você as "entenda" com mais facilidade. Cada pessoa tem uma visão sobre arte e vida. Discordo radicalmente da sua. Mas respeito.
Você acha que a cena fugiu do "tema"? Talvez pense isso porque esperasse uma ficção. Mas não houve. O "tema" estava ali...para quem pudesse ver. Não foi seu caso.
O público jamais foi desrespeitado. Foi chamado a refletir sobre representação - num tempo em que tudo virou espetáculo - o que é diferente. Acho que você tem uma dificuldade de compreensão bem evidente. Sugiro o estudo da dramaturgia contemporânea como um todo( acho até desnecessário citar algo em específico). Informação nunca é demais. Mas para quem se dispõem a criticar , é imprescindível...