A cena da Companhia Subjétil apresenta uma característica interessante dentro do contexto da Mostra: a construção da dramaturgia para os sugeridos 15 minutos de apresentação em uma dinâmica coerente com a utilização do tempo. Na maior parte das outras cenas assistidas até agora, mesmo nas que foram pensadas especificamente para a Mostra, a duração ficou um pouco marcada como uma premissa externa – seja por insuficiência de tempo para que o espectador encontre um fio condutor para si, seja por uma tentativa de preencher os quinze minutos com o maior número possível de signos.
“Coração acéfalo/Boca desgarrada” tem uma cadência própria. Em outras apresentações, os 15 minutos foram divididos em mais de uma cena, às vezes cada uma com uma tônica diferente. Isso não é necessariamente um problema, afinal a Mostra abre possibilidades para uma variedade de propostas, mas dentro de um horizonte de convivência, me pareceu que essa particularidade da cena da Companhia Subjétil fez uma diferença para os espectadores. A diferença está na sensação de ter assistido alguma coisa que não demanda nenhuma referência externa. Mesmo no que diz respeito à referência à Medéia. O conhecimento prévio do mito não é determinante para a fruição da cena porque existe um horizonte de sentidos construído pela cena que permite que o espectador perceba com alguma clareza (mesmo que em diferentes camadas de entendimento) o que está sendo apresentado.
Vale apontar também para o aproveitamento das gags visuais, ou algo parecido com gags visuais (a queda e o gesto das mãos espalmadas para a frente) que lembram um pouco a estética de quadrinhos – não sei se propositalmente. Elas pontuam a cena e fazem uma espécie de costura, de mapeamento que, de algum modo, situa o espectador sem necessariamente contar uma história ou resolver um problema. Mas parece que uma possível gag foi deixada de lado. Depois de uma ou outra queda, o ator tira a atriz de cena puxando-a pelos pés e vice-versa. No momento seguinte, o palco ficava vazio. A encenação poderia aproveitar esse vazio, deixar ele acontecer. Mas o ator ou a atriz voltavam com uma certa pressa, fazendo com que esse vazio pareça um buraco, uma falha. Outra questão que parece uma falha (e só é possível falar de falhas quando a cena tem o que oferecer) é o figurino. A atriz estava com um vestido que parece ter sido pensado para a cena, mas o ator estava com uma roupa que parecia a roupa com a qual ele veio para o teatro. Uma coisa é a proposta do figurino ser cotidiana, outra coisa é não haver uma proposta de figurino.
“Coração acéfalo/Boca desgarrada” tem uma cadência própria. Em outras apresentações, os 15 minutos foram divididos em mais de uma cena, às vezes cada uma com uma tônica diferente. Isso não é necessariamente um problema, afinal a Mostra abre possibilidades para uma variedade de propostas, mas dentro de um horizonte de convivência, me pareceu que essa particularidade da cena da Companhia Subjétil fez uma diferença para os espectadores. A diferença está na sensação de ter assistido alguma coisa que não demanda nenhuma referência externa. Mesmo no que diz respeito à referência à Medéia. O conhecimento prévio do mito não é determinante para a fruição da cena porque existe um horizonte de sentidos construído pela cena que permite que o espectador perceba com alguma clareza (mesmo que em diferentes camadas de entendimento) o que está sendo apresentado.
Vale apontar também para o aproveitamento das gags visuais, ou algo parecido com gags visuais (a queda e o gesto das mãos espalmadas para a frente) que lembram um pouco a estética de quadrinhos – não sei se propositalmente. Elas pontuam a cena e fazem uma espécie de costura, de mapeamento que, de algum modo, situa o espectador sem necessariamente contar uma história ou resolver um problema. Mas parece que uma possível gag foi deixada de lado. Depois de uma ou outra queda, o ator tira a atriz de cena puxando-a pelos pés e vice-versa. No momento seguinte, o palco ficava vazio. A encenação poderia aproveitar esse vazio, deixar ele acontecer. Mas o ator ou a atriz voltavam com uma certa pressa, fazendo com que esse vazio pareça um buraco, uma falha. Outra questão que parece uma falha (e só é possível falar de falhas quando a cena tem o que oferecer) é o figurino. A atriz estava com um vestido que parece ter sido pensado para a cena, mas o ator estava com uma roupa que parecia a roupa com a qual ele veio para o teatro. Uma coisa é a proposta do figurino ser cotidiana, outra coisa é não haver uma proposta de figurino.
De um modo geral, a cena foi muito bem trabalhada, mas a disparidade na habilidade do elenco é um problema que deve ser levado em consideração. É comum em trabalho de grupo que um ou outro ator seja um pouco mais fraco, há uma tolerância com relação a isso, os integrantes de cada grupo se conhecem e reconhecem o valor que cada um tem individualmente. Mas o espectador não tem nada a ver com isso. Em cena, é preciso ter técnica para estar em cena. Mesmo em teatro de grupo, em que é comum que os integrantes exerçam múltiplas funções, na hora de preparar alguma coisa que vai ser apresentada, é importante que as escolhas e escalações das funções sejam feitas de acordo com as habilidades específicas de cada um. Colocar dois atores em cena, sendo um mais hábil que o outro, é um problema. Um problema para a cena, para o diretor, para ambos os atores e para os espectadores. Esse é um assunto bastante delicado e, justamente por ser delicado, fala-se pouco sobre isso, mas é importante parar pra pensar.
Por Daniele Avila
Foto: Elenize Dezgeniski
Por Daniele Avila
Foto: Elenize Dezgeniski
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