Antes de dar início aos trabalhos nesta V Mostra Cena Breve Curitiba, talvez seja importante traçar alguns aspectos dos pontos de vista a partir dos quais as cenas podem ser abordadas neste blog. Digo “pontos de vista” – no plural – porque são múltiplas as possibilidades de reflexão sobre as cenas, são diversos os lugares (do pensamento, da percepção) despertados por cada cena. No entanto, um lugar é condição necessária: o de estrangeira. É como estrangeira que chego a Curitiba, a convite da Cia Senhas, e presencio trabalhos de grupos cuja trajetória não tive oportunidade de acompanhar e cujo contexto de criação e produção não conheço. Tudo o que posso saber de cada cena e de cada grupo está ali: em cena.
Partindo dessa premissa, abre-se o leque. Cada cena puxa uma carta. Além disso, cada grupo de cenas (dividas em três a cada noite) estabelece um horizonte comum, o que acontece quase forçosamente pela convivência no espaço e no tempo de cada apresentação. Sem contar com o fato de que, ao final de cinco dias, forma-se uma espécie de panorama, e as impressões deixadas por cada peça individualmente acabam por se embaralhar. Por mais diferentes que sejam, estão todas – pelo menos temporariamente – no mesmo barco. Nesse sentido, é preciso levar em consideração que quem assiste acaba sendo atravessado pela mistura. A análise de cada cena isoladamente, portanto, é apenas um critério de organização. Vale lembrar que a crítica da cena do outro é quase sempre a crítica de um momento, um prisma ou um recorte do processo de criação artística pelo qual todo mundo passa, independentemente do tempo de experiência ou dos pressupostos com que cada grupo trabalha. As questões estéticas levantadas por um grupo vão refletir na cena do outro.
Antes de começar o jogo, é costume que se embaralhe as cartas. Aproveitemos, então, esse embaralhamento saudável que a convivência propõe.
Daniele Avila
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