Por Valmir Santos
Orlandx em Constantinopla é uma performance que ser quer imponente. Seus aparatos criam um distanciamento radical, a começar pelo invólucro das peles, botas e capacetes ou figurinos-couraças para figuras narcísicas em seus nichos. Um DJ sampleia vozes e sons atrás de algumas plantas. Não consegui desprender ouvidos e visão daquele canto esquerdo, quem sabe porque o único elo de oxigenação que representava. E representação, diga-se, é dela que o Grupo de Investigação Cênica Heliogábalus foge desafiadoramente como o diabo diante da cruz verde de luzinhas no corpete de uma cicerone feminina.
Enquanto isso, três figuras deslizam em carrinhos vaticinando seus ais. A ambiguidade e os impulsos sexuais são sugeridos por meio de objetos e sussurros ao microfone. Despontam projeções borradas na parede de fundo. Uma voz mecânica suplica a “verdade” que para nós, espectadores, tampouco identificamos na cena cercada em suntuosidade na mentira que essa arte também é. Enfim, difícil apreender resquícios do Orlando de Virginia Woolf nessa adaptação dirigida por Ricardo Nolasco: sem poros, sufocante tanto quanto insolente pela fixação em impactar. Hipérbole impenetrável.
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